sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Último


















Hoje é um dia de últimos!

Ultimos...
pensamentos,
sorrisos,
olhares,
abraços,
beijos,
palavras,
desejos,
suspiros,

Hoje é também o meu último post de 2010 e não quero entrar em 2011 sem recordar um momento especial do Ano. Conheci um Espanhol no Tibet, era uma pessoa simples de trato fácil, sorriso espontâneo e de uma alegria contagiante. Visitamos em conjunto alguns templos e neste pouco tempo em que tive o prazer da sua companhia, conheci aquilo que este viajante quis que eu conhecesse. Este Espanhol na casa dos sessenta anos que faz obras em casas e que vive em Londres, dedica a sua Vida a cumprir um Sonho: conhecer o mundo. Pode-se dizer que está bem encaminhado com mais de 100 países visitados, não obstante o seu Sonho contou-me como a sua mulher prefere os comodismos da sociedade moderna, dos spas, dos resorts, das férias na costa mediterrânea Espanhola, etc. Eu digo, são opções, tão só e simplesmente opções, cada pessoa «Sonha» aquilo que entende, como entende, quando entende, é uma escolha de cada um. Este Senhor que acompanhava a sua mulher também nestas viagens, tem o seu Sonho mas tem muito mais que isso tem um plano para ele, tem um caminho que construiu ao longo da sua vida, para que um dia, o último dia, possa dizer cumpri o meu Sonho.
Estavamos de partida do Tibet e na sala de embarque com destino a Kathmandu Nepal, tirou do bolso um pequeno papel e leu-me: "The future belongs to those who believe in the beauty of their dreams". Olhei para o Espanhol, sorrimos os dois, apontei a frase, guardei-a e é essa a frase que me vai inspirar logo quando chegar o último segundo de 2010, mas é também essa frase que me vai acompanhar no primeiro minuto de 2011.

Porque da inevitabilidade do fim, nasce sempre a esperança de um princípio e os «últimos» não são mais que princípios, princípios escondidos…

Eleanor Roosevelt
João

sábado, 25 de dezembro de 2010

La Promessa
























perchè in silenzio
te l`avevo promesso

Paolo Giordano

sábado, 18 de dezembro de 2010

E Agora
























Fecho os olhos,
Hoje vi-te outra vez por entre o esquisso de um Sonho que não era teu nem meu, era de alguém que por ali passava num qualquer passeio imundo com a mão cheia de nada, e tu, tu gritavas, gritavas palavras mudas, gritavas palavras que não eram tuas, palavras sem dono, palavras livres que se entranham na alma de quem passa. Paraste ao meu lado e não me viste, nem se quer nos tocamos porque és transparente da côr da água nascente, não cruzamos se quer um olhar, porque afinal não vês.

Caminhas agora por entre Sonhos que não são teus, na realidade não são de ninguém, existem apenas numa realidade metafísica que nem se quer existe, caminhas em ruas frias, feitas de rasgos de olhares daqueles que te pisam a alma, mas que não te roubam o ser.
Escutas o canto da rua, escorrem-te as lágrimas e também elas não são tuas, na realidade também elas não são de ninguém.

porque...
agora ninguém chora,
ninguém vê,
ninguém escuta,
ninguém sente,
agora ninguém É.

E agora…
agora, és só Tu!

João

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Outra vez


















Voltei a fugir...

Fugi,
outra e mais uma vez,
da incerteza do ontem.

Fugi,
outra e mais uma vez,
da esperança do amanhã.

Fugi…


João

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Um dia



















Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Na Terra dos Sonhos



















Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entre linhas, ninguém se pode enganar
E abre bem os olhos, escuta bem o coração se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o mundo inteiro á tua altura
Tens de olhar p´ra fora sem esquecer que dentro é que é o teu lugar
E se ás duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanço, está ao teu alcançe tens de o encontrar

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entre linhas, ninguém se pode enganar
E abre bem os olhos, escuta bem o coração se é que queres ir para lá morar


Jorge Palma

terça-feira, 23 de novembro de 2010

I am... Invictus














Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.

I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.


William Ernest Henley

domingo, 21 de novembro de 2010

Svegliarsi

























Mi sveglio al chiaro di Luna!!!

João

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Porquê Sonhar

















Decidi um dia escrever este Blog...
Hoje e porque é um dia especial para mim vou falar principalmente do seu tema, os Sonhos. É sem dúvida o meu tema preferido e aquele que me faz sorrir como uma criança, embora não seja frequente perguntar a outra pessoa qual é o Sonho da sua Vida, esta é para mim a questão fundamental para sentir alguém, diz-me o que Sonhas…
Tenho por hábito escrever os meus Sonhos no meu caderno de capa vermelha, de folhas brancas sujas, comprado numa qualquer loja Nepalesa, não o faço porque posso esquecer de algo tão importante para mim, faço o sim, porque um dia me disseram "João escreve o que Sonhas e um dia cada Sonho se tornará realidade" e foi a partir desse momento, daquele instante que se congelou no tempo, que entendi o que é realmente Sonhar, almejar algo, procurar borboletas no estômago, desejar tudo aquilo que por vezes dura um segundo mas que passa a ser eterno porque o concretizamos, porque o sentimos, porque o vivemos.
Concretizei recentemente um Sonho da minha Vida, ver o nascer do Sol nos Himalaias, ver o Everest, agora que o fiz os meus Sonhos caminham já em outra direcção e é assim que vejo os Sonhos, não basta Sonhar temos a obrigação de procurar realizar o nosso Sonho, seja ele qual for, temos o dever perante nós próprios de o sentir e no dia em que por fim esse Sonho chega, devemos e porque podemos, Sonhar mais um Sonho, desejar, querer e de forma apaixonada realizar novamente.

Não posso deixar de referir hoje dia 10 de Novembro no dia do meu aniversário, outro tipo de Sonho o Sonho das pessoas que Amamos, aqueles que acompanham a nossa vida a cada instante que passa, aqueles que sabem quem sou. A minha Mãe, a melhor Mãe do Mundo. A minha querida Irmã que com o seu feitio de guerreira e olhos doces é uma inspiração de Mulher. A minha grande Amiga Cristina que embora esteja presente na minha vida há relativamente pouco tempo é sem dúvida uma pessoa extraordinária que me enche o coração com o seu jeito independente e com a sua meiguice escondida. A minha grande Amiga Carla, por qual tenho eterna admiração, pela forma directa diria crua como diz o que pensa. A minha grande Amiga Maria Emília sempre pronta a dar-me os seus conselhos sábios. A minha grande Amiga Cláudia sempre disposta a dar como ela própria diz: abraçinhos. O meu grande Amigo Zé companheiro de fotografia e de conversas mil. O meu grande amigo João B. companheiro nas histórias amorosas que povoam as nossas vidas. O meu Grande Amigo João O. pessoa pela qual nutro profunda admiração e um Sonhador de Alma e meia. E por fim mas não por último um Sonho de Mulher que fez recentemente parte da minha Vida de forma mais próxima e pela qual tenho um carinho infinito a Margarida, por todas estas pessoas posso dizer hoje que é um Sonho partilhar a minha, a nossa Vida, é um Sonho poder Sonhar ao vosso lado.

E é tão bonito Sonhar…


João

domingo, 24 de outubro de 2010

Uma Vida

















Vi uma Vida,
num instante de momento.

João

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Olhar
























Procurei...
No teu Olhar, o meu.

João

domingo, 10 de outubro de 2010

Uma Breve estória de Pedro e Inês



















Estamos em meados do século XX, em Paris. É na cidade Luz que vivem os personagens desta breve estória.

Inês é uma mulher na casa dos trinta e poucos anos e que transparece no seu semblante uma alegria contagiante. Embora não saibamos muita coisa sobre Inês, vamos confiar nas impressões de Pedro, que assim que viu Inês ficou profundamente encantado. Lembra-se perfeitamente desse dia, era Fevereiro, dia nove para ser exacto. Pedro sobe umas escadas e encontra Inês, ela não o vê, está em pé, tem pele morena e cabelos dourados, que iluminam todo aquele corredor, são raios de sol pensou. Percebe-se que Inês é uma mulher moderna, veste-se com um casaco escuro cintado e de gola, uma mala grande, e um look muito coquette. Pedro observa as mãos (para Pedro as Mãos de uma Mulher refletem a sua Alma) de Inês, tem mãos de pianista. Aqueles segundos foram o suficiente para Pedro achar que estava perante uma Mulher extraordinária, achou-a doce, meiga, maravilhosa e suspirou, baixinho. Já voltaremos a este momento, quando chegar a altura de contar os factos da nossa estória.

Pedro está também na casa dos trinta anos, embora tenha um ar de miúdo, usa barba para dar um ar mais velho, a maioria das pessoas dá-lhe alguns anos a menos. Pedro é um pintor desconhecido, que passeia na sociedade Parisiense incógnito aos olhos de todos os outros artistas. O seu trabalho é intenso e reflecte a sua forma de estar na Vida. Tem amigos muito interessantes como Picasso, Dali e sente-se um privilegiado por privar com estas pessoas, fazem-no crescer e verdadeiramente Sonhar. Como qualquer artista é um Sonhador, pode-se dizer mesmo que vive no mundo da Lua, acredita em estórias de Principes e Princesas, tem o livro o Romeu e Julieta sempre ao pé da cabeceira, confia no seu instinto e é o que podemos chamar uma pessoa de primeiras impressões. Os Sonhos são o seu tema preferido.
Pedro tem algumas características que lhe são muito particulares: não dá confiança às pessoas que não conhece, passando algumas vezes por arrogante, tem dificuldade em aproximar-se das pessoas, é ingénuo, sensível, acredita profundamente no ser humano e principalmente no que as pessoas lhe dizem, é introvertido (fecha-se muito em relação que lhe vai na Alma), mas consegue ser muito sociável e é um idealista convicto. Como qualquer ser humano tem defeitos: teimoso, impulsivo, orgulhoso, vive em permanente luta interna enter o seu lado emocional e o seu lado racional, agindo muitas vezes sem pensar. Digamos que não tem uma personalidade fácil, mas tem bom coração e quer sobretudo que todas as pessoas sejam Felizes e possam evoluir como seres humanos.

Pedro é moreno e podemos dizer que é atraente aos olhos do sexo feminino, tendo uma relação muito próxima com as mulheres. Pedro é aquele tipo de homem que gosta da companhia das mulheres, gosta de as tentar perceber, embora ache cada vez mais uma tarefa hercúlea. Tem algumas Amigas verdadeiras, tendo um carinho muito especial por todas elas, cada uma com as suas particularidades, cada uma fascinante à sua maneira. Sente verdadeiramente «Amor» por elas, um Amor especial sem atracção física e que lhe traz grande alegria.
Pedro é um homem marcado por um relacionamento longo, marcado, mas neste caso no bom sentido, pois se não fosse esse relacionamento não estaria hoje aqui, desta forma, Sonhando, procurando aprender a cada instante, a cada segundo, procurando Sentir a Vida. Depois desse período teve uma altura boémia, com relacionamentos fugazes, de índole fisica e que na altura o fizeram sentir Vivo e lhe mostraram emoções novas. Teve mais tarde um outro relacionamento mais pequeno (ano e meio) com uma mulher consideravelmente mais nova, vi-a nela uma esperança de uma dia se tornar uma verdadeira Princesa, algo que nunca acabou por acontecer, pelo menos enquanto tiveram juntos e era criticado pela maioria dos seus amigos e família. Este relacionamento acabou por sucumbir aos desígnios do destino.

Pedro resolveu inscrever-se num curso de teatro e foi aí que conheceu Inês, no tal dia nove de Fevereiro, que iremos retomar. Pedro entra para a sala e vai para o fundo direito da sala, inconscientemente ou não, fica perto de Inês. Nesse dia e depois da aula de introdução do curso vai tomar um chá com o seu amigo Carlos e conta-lhe que tem no curso uma Mulher Maravilhosa. Os dias vão passando no curso e Pedro pensa cada vez mais em Inês, sente-se intrigado por aquela mulher, até o seu cheiro começa a reconhecer. Numa das aulas é pedido aos diversos alunos que façam um ensaio com um colega em que cada um deve assumir a entidade do outro, falando sobre si, era a oportunidade ideal para Pedro saber quem era Inês. Ficou a saber que estava solteira, trabalhava como estilista numa casa de moda muito conceituada, gostava de música, tudo perfeitamente natural em alguém que respirava bom gosto. Ficou também a saber que as suas palavras são repletas de sorrisos. Este exercício teatral, trouxe-lhe esperança, até porque mais tarde foi falado pela turna em combinar jantar, seria a oportunidade ideal para conhecer a doce Inês.
Quis o destino que fosse enviado para casa de cada um dos elementos da turma uma carta e nela vinha a indicação das moradas de cada um dos elementos do curso. Pedro encheu-se de coragem e enviou uma carta a Inês, pedindo desculpas pela invasão que tinha acabado de cometer. A resposta não tardou e os dois começaram a trocar correspondência com alguma regularidade, descobrindo muitas semelhanças dignas de um filme, daqueles em que quem o espectador diz, estas coisas só acontecem no cinema, levando-os a comentarem que truque teria o destino reservado para que as suas duas almas se conhecessem. Descobriram que partilham o mesmo gosto por cinema, Inês conhecia o realizador preferido de Pedro (um realizador que não anda propriamente na boca do mundo, pelo menos para quem vê o cinema como um local de entretenimento puramente visual), viagens, música, descobrem que frequentam os mesmo locais da cidade luz, curiosamente nunca se tinham visto a não ser no tal dia nove de Fevereiro, descobrem que têm o mesmo signo o mesmo ascendente, e que são Almas Sonhadoras. Numa dessas trocas de correspondência combinam um encontro para depois do curso de Teatro.
Foi numa segunda-feira e após o curso, que Inês e Pedro finalmente se «conhecem». Pedro quis mostrar a Inês o seu local preferido de Paris, ao pé do Sacre Couer e com vista sobre a cidade Luz, mas que infelizmente estava fechado, optaram por ir a um local relativamente perto, beber um chá. Foi um encontro em que os segundos voaram, mas ao mesmo tempo o tempo parecia que havia sido congelado, pelo menos para Pedro. A conversa foi óptima, as trocas de sorrisos constantes e a empatia entre ambos, evidente. Inês e Pedro falaram sobre a vida, família, amigos, música, as palavras fluiram sem parar, sem medo de se encontrarem. Pedro leva Inês a casa em seu coche. Inês vive numa das zonas mas bonitas de Paris na Rue Jean Goujon, perto do Sena. Na despedida do encontro eis que acontece o inesperado, Inês beija Pedro, em mais um momento digno de um filme romântico, com direito a pé levantado e tudo. Pedro apanhado de surpresa pede calma a Inês, deslocando-se para casa com o pensamento naquele beijo.

No dia seguinte continuaram a trocar cartas, confidências, sorrisos, digamos o normal quando duas pessoas se estão a conhecer. À tarde e à hora de sempre ambos vão para o curso, no meio da aula é pedido que seja feita uma encenação de um casal que vai ao cinema, Inês e Pedro olham um para o outro e sorriem, mais uma das tais conicidências que haviam falado nas suas trocas de correspondência.
Depois do curso vão ao cinema, escolhem um filme Italiano de um realizador de renome, que não interessa para a nossa estória. O filme corre na tela do cinema, Pedro sente o perfume de Inês e pega-lhe na mão, mãos que deslizaram uma na outra, entrelaçando-se, numa valsa perfeita. Pedro olha Inês e Inês olha Pedro, ambos sorriem. O filme acaba e no seu coche, Pedro leva Inês a casa, hoje não é dia de «beijo», apenas de sorrisos. Na voz do nosso Pedro, «uma noite perfeita».
O sol nasce e Pedro já tem planos para a noite seguinte, resolve enviar um telegrama e pede que Inês esteja pronta às dezasseis horas e que leve roupa quente. Estamos em Março e Paris conseguer ser uma cidade fria nesta altura do ano e a qualquer hora do dia. O dia passa de forma lenta, parece que os segundos têm o dobro do tempo e que a manhã não quer fugir. São dezasseis e à hora marcada, Pedro espera Inês à sua porta, quando chega ao coche Pedro sorri, o seu olhar, o olhar de uma criança, enfeitiçado pela graciosidade de Inês, pela sua simpatia, pelo seu jeito dócil, diria até "infantil". Pedro preparou uma surpresa a Inês, um lanche à beira do Sena, com vista para a Torre Eiffel. Inês não sabe da surpresa e quando percebe finalmente o que se vai passar olha para Pedro e os dois lançam-se nos braços um do outro, beijando-se. A paisagem, simplesmente de Sonho, Paris é uma cidade em que os suspiros voam pelos recantos das ruas, em cada esquina os sussurros dos Amantes, sente-se o perfume dos corpos. A tarde correu para a noite e ambos contemplaram o céu e as estrelas, não se sabe se Inês pediu algum desejo, mas Pedro olhou uma estrela que passava e falou-lhe em voz baixinha, disse-lhe o que sentia. Trocaram um piscar de olho e a estrela seguiu o seu caminho, em direcção à terra dos Sonhos, mas com um pedido na sua cauda brilhante. Entretando a Torre Eiffel ficou iluminada, pelas velas que nesta altura de ano a trajam. Mil e uma luzes centilaram, dançando na voz do vento, foi um momento que trouxe alegria à Alma de Inês e Pedro. Foi uma noite de beijos, olhares e sorrisos. O encontro foi Lindo, repleto de Romantismo, diria poético. Há noites que deviam ser eternas, eternas, como poemas perfeitos, rasgados por palavras imortais que se alongam pelos braços do tempo.
Aquela noite foi especial para Pedro, não sabemos se para Inês também o foi, de igual forma. Pedro sentiu que Inês estava de corpo e alma naquele lugar, naquela tarde, naquela noite.

Chegamos a sexta-feira e Pedro tinha combinado ir jantar com o seu Amigo Carlos, vão jantar ao cartier latin. O Jantar corre bem, como sempre, até porque Carlos um Amigo que Pedro reecontrou recentemente, passou a fazer parte da Vida de Pedro, é uma pessoa fantástica e com um sentido de humor extraordinário. A meio do noite jantar envia um telegrama a Inês dizendo que está a pensar nela, a resposta "longe da vista, perto do coração" encheu de sorrisos o olhar de Pedro. O vinho é presença obrigatória e pode-se dizer que quando saem Pedro está «alegremente» bem disposto. Os dois dirigem-se para montmartre, uma das zonas
neste momento mais boémia da cidade Luz. Pedro e Carlos entraram no cabaret que ultimamente têm frequentado. Pedro não é um boémio, as suas amigas chamam-lhe Cinderela, isto porque normalmente não se perde pela madrugada Parisiense, não quer correr o risco do seu coche se transformar numa abóbara, costuma brincar Pedro. Nesse cabaret estava marcado um encontro, Pedro e Inês haviam combinado se encontrarem nessa noite. Pedro estava nervoso e «alegre», mistura explosiva como se sabe. Inês chega, está deslumbrante, simplesmente um verdadeiro Sonho, Pedro corre para os seus braços com um sorriso de quem está Feliz, de quem tem a Alma bonita, beija Inês, completamente indiferente às pessoas que se encontram no cabaret, não existe mais ninguém apenas os dois (para Pedro). Ambos estão acompanhados dos seus amigos e existe aquele ritual normal de apresentações, as amigas de Pedro fazem elogios sobre Inês, Pedro agradece sorrindo, sorrindo de felicidade. No meio da confusão e com a música como pano de fundo, Pedro faz uma declaração, está apaixonado, segreda baixinho ao ouvido de Inês. Pedro percebe que Inês fica surpreendida e sem reacção, não faz comentários, fica extasiada com o que que lhe foi tinha dito ali, sem qualquer preparação. A partir daquela altura tudo mudaria, embora Pedro só tenha consciência disso mesmo, mais tarde. A noite continuou e Pedro sentiu que Inês estava inconfortável, até os beijos pareciam diferentes. Apenas na despedida Inês pareceu Inês, a Inês que no dia anterior se tinha abraçado a Pedro de forma mágica. A noite acaba e Pedro vai para casa, ao chegar à sua porta, tem um bilhete, era de Inês. Ao ler o bilhete Pedro ficou triste e um pouco surpreso, Inês está assustada e acha que as coisas estão a ser Lindas, mas a avançar depressa demais e de forma intensa, relê várias vezes a carta pela madrugada a dentro. Acorda de hora a hora, não consegue deixar de pensar em Inês, nas suas palavras, revolvendo o significado de cada caracter, de cada frase. Resolve escrever uma carta de resposta, explicando o que se passou na noite anterior. A sua intenção não foi pressionar Inês, de alguma forma, apenas explicar-lhe o que lhe vai na Alma e embora possa parecer assustador, visto se conhecerem à pouco tempo, sentia verdadeiramente as palavras que lhe correm do coração. Pedro concorda que devem ir com calma, até porque foi sempre essa a sua intenção. Numa das cartas Pedro diz a Inês "não vale a pena nos preocuparmos com o dia de amanhã, porque ainda nem se quer vivemos o dia de hoje". As trocas de correspondência foram contínuas, Inês diz a Pedro que não está apaixonada por ele, mas que se sente verdadeiramente encantada, tem vontade de sentir o seu beijo e que o vê como um Amigo Especial algo entre o amigo e o namorado. Não está preparada para um relacionamento e para viver esta situação de forma tão intensa. Inês que sempre Sonhou em encontrar alguém como Pedro, não consegue retribuir da forma que sempre imaginou, tem medo de se apaixonar, foram estas as suas palavras.
Pedro fica também a saber que Inês veio de um relacionamento longo, de cerca de sete anos e que tinham passado oito meses desde a separação, sendo que neste período houve, entretanto, uma racaída. A decisão da separação não foi tomado por Inês. Pedro começa a reflectir, sabe perfeitamente que as mulheres quando são "largadas", ficam bastante afectadas emocionalmente. Normalmente quando relações longas terminam e ainda existem sentimentos é bastante complicado alguém se envolver por inteiro, visto existirem medos, dúvidas, inseguranças. Isto sabe Pedro, por experiência própria.

Pedro pinta a sua primeira tela, inspirado em Inês, é algo forte, diria libertador para Pedro, como um grito da sua Alma. Foi algo que mexeu profudamente com o seu idealismo, com as suas convicções.
Nessa semana havia curso de teatro, como normal. Segunda-feira Inês falta, já tinha avisado Pedro que estaria a trabalhar. Na quarta-feira há encontro no curso, Pedro anda triste, diria mal disposto, Inês já o sentiu e quando percebe que Pedro não vai ao jantar, pergunta-lhe o porquê, responde Pedro, que deixou de fazer sentido e que preferiu ir a um outro jantar. O jantar correu bem, mas o seu pensamento está distante, longe do local onde se encontra, na realidade está ansioso para que o dia chegue ao fim, ir para casa, deitar-se, ouvir as suas sonatas de piano, ritual que não dispensa antes de dormir. Ao som do Piano as suas emoções voam para a Terra dos Sonhos, tal como aquela estrela a quem Pedro pediu um desejo.
As trocas de cartas continuam e Inês propõe a Pedro um relacionamento sem expectativas, algo de especial. Pedro acha que o assunto deve ser tratado pessoalmente e ficam de combinar um encontro. Esse encontro seria um jantar num domingo à noite. O jantar realizou-se no restaurante preferido de Pedro. A noite foi agradável, como as restantes que se passaram entre os dois, sorrisos, conversas, as tais coincidências. São inúmeras as vezes em que os dois dizem a mesma coisa, ao mesmo tempo, como se os seus corações tivessem em sintonia, como se os pensamentos fossem um só. Combinaram irem com calma e se conhecerem.
Pedro leva Inês a casa, vira a cara propositadamente para que não haja a mínima hipótese de beijo, Inês percebe, comenta , conversam, outra despedida, mas o beijo continua ausente.
Nos dias seguintes apenas uma troca de cartas. Nessa carta Inês reforça a questão da amizade especial e envia um beijo especial. Pedro olha a carta e pensa no que se tinha passado ainda no Domingo, impulsivamente resolve responder a Inês, diz -lhe que é melhor acabarem com os programas e que se perderam no tempo, Inês aceita a decisão, que Pedro não queria realmente tomar. Nos dias seguintes, não há trocas de correspondência, Pedro obriga-se a nada dizer a Inês, apenas a saudade. No curso apenas cumprimentos educados, nada mais.

Pedro resolve começar um novo trabalho sobre Inês. É um painel, cada painel conta um segredo, cada painel traz um mistério, será o seu último trabalho sobre Inês e aquele que irá ficar para sempre guardado na caixinha das recordações.

É transparente para os leitores os sentimentos de Pedro por Inês, quanto a Inês e por razões próprias, travou a progressão do "relacionamento". Se avaliarmos os acontecimentos, percebemos que ambos os personagens estão em fases diferentes da vida, mas existe uma verdade universal que não pode, nem deve ser esquecida, quando se gosta verdadeiramente de uma pessoa, não existem "desculpas", argumentos, que impeçam de querer perceber quem está à nossa frente, essa é uma verdade absoluta. Quando estamos em frente a uma pessoa, que nos encanta de forma única, temos aquela vontade secreta, de saber se aquela pessoa, é a tal. Podem alguns leitores dizer que Inês, não sabe o que quer, que está a atravessar uma fase da vida complicada, que poderá estar eventualmente confusa, mas a verdade, a verdadeira verdade é que Inês não está, como ela própria disse, apaixonada por Pedro e isso é simplesmente tudo.

Entretanto Pedro recupera o seu brilho, o seu sorriso. Um Poeta amigo uma vez disse a Pedro, "aquilo que não controlamos, não temos que nos preocupar, não é uma Felicidade".
De Inês pouco se sabe, apenas que sobrevive. As cartas desaparecem, o afastamento é evidente. Inês deixou de escrever a Pedro, apenas o silêncio, sem saudade.

Pedro desloca-se ao local do lanche, junto ao Sena, à noite e dentro de uma garrafa enrola o último painel do seu trabalho sobre Inês. Na tela está representado o final desta estória, a acompanhar a tela vai a morada de Inês. É este o nosso fim, acaba onde tudo começou, sob o olhar das Estrelas.

Fim

Pedro Villar

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Lá do Alto, bem Alto...

















Hoje… acordei no alto de uma Montanha,

Lá do alto, bem do alto,
vejo o tecto do mundo que me chama com palavras taciturnas,
dançam por escarpas geladas num caos de perfeição,
Sonho…

lá do alto, bem do alto,
vejo estrelas que se perdem de vista , correm pelos céus devagar, esperando.

lá do alto, bem do alto,
vejo os riachos, os rios e o mar, apressados, suspiram rumo à liberdade difusa.

lá do alto, bem do alto,
vejo as pedras, os calhaus e os pedregulhos, cansados, gastos por um tempo que não quer passar, impotentes ao caminhar.

lá do alto, bem do alto,
vejo as ruas e os becos, as avenidas e as ruelas,
vejo almas sozinhas que no meio da multidão procuram o conforto à solidão,
vejo corpos nus desprovidos de qualquer sentir que em desacerto se unem, vazios no tempo.

Estou sentado...
ladeado de montanhas infinitas, procuro-as com o meu olhar, estendo-lhes a mão,
Sorriem!

Li à Montanha um poema, escutou-me... Chamo as Nuvens que em passo ligeiro e trazidas pela ventania, depressa se juntam para me escutar. Veio também o Sol, raiando todo o seu esplendor. Comecei a ler o poema que se impunha: das Nuvens caíram lágrimas, do Sol mil cores de encantar.

e por fim,
ri, gritei , chorei, abraçei o Mundo...

fui,

Livre...


João

sábado, 18 de setembro de 2010

Viajar














Viajar é ser como a Gaivota que num movimento perpétuo, se agita nas asas do Vento!

João

Desconhecida
























Tudo nela é bonito,
Tudo nela é verdade,
e com ela acredito na Felicidade...


E porque há Gente que não é só Gente...

Roberto Carlos/João

Velha
























Que bonita é,
tua Alma «Velha»

João

Silêncio













Por vezes,
quero o Tudo...

Por vezes,
quero o Nada….

e por fim,
Silêncio

João

domingo, 20 de junho de 2010

Hatchi











«Hatchi o Cão que esperou pelo seu dono 9 anos»

Conheci esta história de encantar num banco de avião, agarrado à pequena televisão e chorei como uma criança…

O filme tem como protagonista Richard Gere que representa o papel de Parker Wilson, um professor universitário que um dia encontra um cão de raça Akita abandonado numa estação de comboio. Nasce entre eles um relacionamento verdadeiramente especial e uma amizade inseparável. Todos os dias Hatchi acompanha Parker Wilson à estação que o leva à Universidade onde dá aulas e todos os dias à mesma hora se senta em frente a essa mesma estação para o efusivamente receber. Esta história de «Amor» entre Hatchi e o seu Dono é de repente interrumpida pela morte do Professor… A partir daquele dia Hatchi dirige-se para aquela estação de comboio à espera do seu Dono, esperando, esperando… As pessoas que conheciam o Professor e o seu cão, também elas não ficaram indiferentes a este «Amor» e era frequente alimentarem-no, admirando a sua dedicação, os seus sentimentos. Hatchi morreu 9 anos depois da morte do seu dono e morreu no preciso local onde todos os dias aguardava alegremente pelo seu Amigo…

Esta história transposta para o cinema é verídica e aconteceu no Japão.

Uma história como a de Hatchi e do seu Dono é sem dúvida uma lição de vida e uma inspiração, para todos aqueles que acreditam que é possível «Amar» incondicionalmente…

Uma história Inimaginavelmente Bela…

João

sábado, 12 de junho de 2010

Destino
























Hoje voltei-te a encontrar, ali estavas, parado com o Tejo aos teus pés, sozinho por entre as tuas fotografias, o teu caderno, os teus pensamentos, as tuas memórias. Convidaste-me para sentar ao teu lado e desfrutar da tua vista preferida, aquela que te enche não apenas o olhar mas a Alma. Esboçaste-me um sorriso e como sempre e de forma educada perguntaste-me como estava, foi nesse momento que olhei para os teus olhos e percebi a tua mudança, essa que consome o teu olhar e de forma escondida te queima o corpo, a mente, cada pensamento. Como pude não reparar no que agora vejo, por entre esse teu rasgar de olhos meigos e sorriso fácil esconde-se uma Alma inquieta. Por entre a encruzilhada dos teus sorrisos falas-me da liberdade e do amor, destes dois sentimentos que parecendo antagónicos são tão iguais. Já viveste os dois, não podem coexistir dentro da mesma Alma. Perguntas-me o que escolheria, não sei te responder, muito menos se existe se quer resposta possível para o que me perguntas. Mas tu dono das tuas certezas convictas falas-me agora de uma liberdade pela qual anseias, a liberdade de um admirável mundo novo, a liberdade das conversas com estranhos que cruzam a tua vida por um minuto e se arrastam pela eternidade da tua vida, a liberdade das lágrimas quando sobes uma montanha, a liberdade dos sorrisos dos transeuntes de uma rua degradada qualquer, a liberdade das crianças sujas que brincam na rua felizes, a liberdade das emoções repletas de uma intensidade inimaginável , a liberdade dos dias que parecem meses, a liberdade de Sonhar. Estou estupefacto a olhar-te, a contemplar cada palavra que voa da tua boca. Pergunto-te pelo amor, respondes-me "uma alma verdadeiramente livre dificilmente voltará a amar, serei sempre uma alma incompreendida sem metade". É esse o preço que irás pagar.

Levantas-te e de forma simpática dizes-me adeus. Pões-te à estrada, essa que te leva aos desígnios do teu destino.

João

Sorrir
























Vi um grito de Felicidade, de alguém que ali parado sorriu!


João

O Sorriso de uma Criança
























Dou por mim a trocar olhares, sorrisos com estes estranhos que cruzam o meu caminho.

As crianças olham-me,
Nada pedem,
Simplesmente, Sorriem

Dou por mim a sorrir como uma criança, cada dia um admirável mundo novo!

E no entanto atravessamos uma vida sem perceber que sermos felizes é sorrir como o faz, Uma Criança!

João

domingo, 18 de abril de 2010

Dever de Sonhar



















Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.

Fernando Pessoa

Partiste Finalmente






























Partiste finalmente,
despojado de Ti e de tudo,

Nao escolheste o caminho da calçada branca e luzidia.

Partiste finalmente,
Nu de sentimentos, cru de emoções.

Fugiste por entre folhas partidas e pedras esmagadas.

Partiste rumo não sabes onde,
com vontade de não sei o quê...


João

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Solidão

























Porque a verdadeira solidão,
É a solidão de uma Alma Só...


João

Despedida
























Tenho uma lágrima na mão, É tua.
vive suspensa no tempo, em eternidade absoluta...

Um dia, deixará de chorar.

Um dia, poderei dizer…


João

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Partir

















Sigo sem destino, sem rumo, sigo sem fim.

Não busco a Humanidade por isso digo-te, Parti...


João

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Memórias de uma Viagem ao Peru
























Capítulo II- Pisco e Ilhas Balestras.


Entrei no autocarro que me iria levar ao primeiro local por mim designado nesta viagem "Pisco". O tempo previsto para a viagem, 2h30. Estava relativamente nervoso, não sei bem porquê, mas lembro-me que me sentia como uma criança que na expectativa de um brinquedo novo, se sente agitada numa inquietude desconfortaste, apenas saciada quando consegue finalmente o que quer.
O autocarro como não poderia deixa de ser era velho, para não dizer muito velho, para se ter uma ideia provavelmente era um autocarro que aqui em Portugal andava pelas nossas estradas há mais de 20 anos, lembro-me particularmente dos apoios da cabeça, eram amarelos, talvez para darem algum colorido às cinzentas viagens que o autocarro faz. À medida que ia percorrendo as ruas de Lima, fui constatando mais uma vez a pobreza que vive naquelas pessoas, trata-se na minha opinião do pior estado de pobreza que existe a «pobreza urbana», lixo que transborda as ruas, casas decadentes em que se sente o cheiro da sujidade e da pestilência, pessoas que sobrevivem a cada dia que passa, numa penosa viagem pela vida, esperando não pelo dia de amanhã mas sim pela comida do dia de hoje, pessoas que se arrastam pelo tempo, vagabundeando pelas dificuldades que a vida lhes trouxe, provavelmente sem esperança aceitando apenas o destino, aquele destino triste e cinzento. Foi algo que mexeu profundamente comigo e que abalou algumas convicções que tinha. Nunca tinha estado se quer ao pé de tamanha escassez, daquilo que pelo menos entendo sejam as mínimas condições de vida para uma pessoa e posso dizer que não e fácil olhar de frente para aquelas pessoas.
No meu lugar de janela fui observando, olhando, cheirando, sentido, tudo aquilo que estava a viver, anotando no meu caderno pensamentos e gravando na minha máquina fotográfica aquelas imagens inesquecíveis. A paisagem era marcada naquele dia pelo frio cinzento dos céus e pelos tons sépia das dunas que ao longo do mar acompanhavam a minha janela, estava a afastar-me da civilização...
Comecei a disparar fotos e tive alguma preocupação de ver quem ia entrando na camioneta, algo que se revelou ser muito útil mais tarde. Uma das coisas que mais me ficou na retina foi o ritual de despedida das pessoas, acho que é algo que não damos muita atenção nos dias que correm ou pelo menos não temos a nossa atenção focada para esse momento, mas ali sozinho reparava em todos os pormenores, em cada pessoa que cruzava o meu olhar e aquelas despedidas eram sem dúvida momentos únicos de se sentir. Podemos ver nas despedidas os sentimentos que presumo sejam dos mais verdadeiros, entre o viajante e o que fica. Lembro-me particularmente de uns pais que se despediam do seu filho, homem na casa dos vinte e tal anos, dos abraços e dos beijos e de nos últimos segundos antes de entrar no autocarro lhe darem dinheiro para a mão, fez me lembrar o meu Avô que quando era pequeno me dava uns trocos quando me ia embora da sua casa. Depois, os acenos da despedida, o voltar do pescoço que seguia o autocarro, esse que desaparecia no horizonte envolto nas lágrimas da distância…
Fui passando por diversos lugarejos, passagens obrigatórias do itenário da camioneta e fui me dando conta de uma particularidade interessante das habitações naquela zona do Peru, constroem as casas pensado sempre em acrescentar andares, ou seja, os rés de chão das casas têm vigas para construir o andar de cima e não se pense que este tipo de construção é raro, não, nada disso era a maioria, umas já tinham tijolo, outras mesmo o primeiro andar e com aspirações a galgar os céus e partir para o segundo andar, enfim, habitações que do ponto de vista arquitectónico eram realmente muito estranhas, davam ainda um ar de maior degradação àquela zona. Os carros que iam passando também eram autênticas relíquias, perguntando-me muitas vezes como ainda circulavam, ainda para mais naquelas estradas que também não são propriamente estradas comparáveis àquelas que serpenteiam as planícies, vales e montanhas do nosso Portugal. O tempo passava e sentia-me cada vez mais envolvido pelo ambiente que me rodeava, lembro-me de forma intensa de uma habitação, se podemos chamar habitação a quatro paredes com cerca de 20m2, sem tecto, plantada ao pé da estrada e rodeada de terra, dizia "vende-se", perguntei-me quem quereria viver naquelas condições, fechei os olhos e vi a mesma frase, agora na janela de um qualquer apartamento no chiado, como é distante a realidade das pessoas…
Finalmente cheguei ao destino, confirmei que era o local de saída com uma simpática senhora que seguia dois bancos à minha frente. Peguei a minha mochila e juntamente com outros viajantes colocamos os pés no solo de Pisco. Posso dizer que foi uma das piores sensações que tive em toda a minha Vida, olhei para todo o lado e vi degradação, a estrada era de terra, marcada pelo rasgar dos pneus das camionetas e automóveis podres que passavam naquela suposta via, as casas, montes de tijolos, amontadas sem qualquer preocupação e de uma pobreza atroz, as pessoas indiferentes àquele cenário caminhavam na rua indiferentes a tudo. Senti-me infinitamente pequeno e invadido por uma sensação mista de medo, arrependimento e pânico, pensei mesmo que tinha cometido um erro em embarcar nesta viagem sozinho e que iria sofrer as consequências de tal atitude, foi uma sensação horrível, espero não a sentir nunca mais. De repente e sem explicação fiquei calmo, olhei em volta e reparei que as duas raparigas ocidentais que tinham entrado na camioneta comigo também tinham saído em Pisco e não sei bem porquê fiquei mais tranquilo, talvez por perceber que não estava realmente só e que poderia falar com alguém, que possivelmente poderia estar na mesma situação que eu. O ser humano tem em si guardadas esperanças que muitas vezes desconhecemos.
Muito perto do local onde descemos estava uma espécie de posto turístico, tipo uma paragem de autocarro em contraplacado sem porta, em perfeita harmonia com o resto do parque habitacional que ladeava a estrada. Fomos os três falar com o senhor que estava sentado numa secretária muito velha com panfletos promocionais em cima e com fotografias das Ilhas Balestras. As raparigas começaram conversar com o senhor sobre as possibilidades daquela zona. Tanto eu como elas queriamos visitar as Ilhas, rapidamente achei que seria uma boa ideia me juntar a elas, se elas assim o quisessem, resolvi perguntar-lhes isso mesmo, ao que elas me disseram que sim. Entretanto o senhor informo-nos que para ir ver as Ilhas já era um pouco tarde e que os barcos saiam às 8h00 da manhã e que podiamos em alternativa visitar a Reserva Nacional de Paracas nessa tarde e de manhã cedo visitar as Ilhas, depois de algum tempo e conversas sobre o plano que o senhor nos estava a propor, decidimos aceitar a proposta. Outro pensamento que me preocupava era onde iria dormir, isto porque Pisco era realmente um terror, o senhor do posto turístico sugeriu-nos irmos dormir a Paracas, isto porque Pisco desde que tinha sido assolado por um terramoto há dois anos, estava bastante destruído, com poucas condições para viajantes e ainda por cima era perigoso. A minha alma sentiu uma compreensão enorme depois daquela explicação e aquela paisagem pobre e destruída passou a ter um sentido diferente na minha cabeça, o que serviu para me tranquilizar.
O senhor do posto turístico deu-nos então o plano e o respectivo valor da visita, uma meia dúzia de nuevo soles, o que não deixa de ser uma pechincha em euros. Chamou uma táxi para nos levar e lá fomos nós rumo a Paracas. No percurso o Senhor do táxi fez-nos uma proposta mais atraente do aquela feita que o senhor do Posto Túristico, que incluía uma visita particular feita por ele da parte da tarde à Reserva Nacional e a promessa de alojamento ainda mais barato do que que o Senhor do Turismo nos disse. Perguntei logo pelas condições que para mim são mínimas: água quente e que seja limpo. Numa viagem como esta não estava muito preocupado com a vista ou com o design do local onde iria pernoitar, apenas as condições mínimas básicas tinham ser ser cumpridas. A viagem até Paracas demorou cerca de 30 minutos, aproveitei aquele tempo para olhar a paisagem e conhecer as minhas companheiras de viagem para o próximo dia e meio. Eram as duas Americanas, uma vivia em NY e outra na Califórnia, não eram o protótipo do Americano Burro e tinham uma perspectiva de vida bastante open minded. Tinham "deixado" os respectivos namorados e embarcado nesta viagem à procura das sensações Peruanas.

Continua...

João

Liberdade!


















Amo a liberdade, por isso deixo livre tudo que tenho... Se voltar é porque as conquistei, senão é porque nunca as possuí!


John Lennon

Porquê Sonhar...



















E depois...

Apenas o tardar do Silêncio.

João

Segredos


















May I ask why you left 2046?

Whenever anyone asked,
why I left 2046...

...I gave them some vague answer

Before..

...when people had secrets
they didn't want to share

...they'd climb a mountain

They'd find a tree and carve a hole in it,
And whisper the secret into the hole,
Then cover it over with mud,
That way...

Nobody else would ever discover it...

2046 Filme

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
























Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar...).


Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando não merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:
E' estar ao lado da escala social,
E' não ser adaptável às normas da vida,
'As normas reais ou sentimentais da vida -
Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
Não ser pobre a valer, operário explorado,
Não ser doente de uma doença incurável,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.


Não: tudo menos ter razão!
Tudo menos importar-se com a humanidade!
Tudo menos ceder ao humanitarismo!
De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,
Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:
E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,
E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.
Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.
E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente
Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,
E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos! Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão


Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!
Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!
Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,
Que são pedintes e pedem,
Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!
Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!
Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.
Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.
Nada de estéticas com coração: sou lúcido.
Merda! Sou lúcido.



Álvaro de Campos